Carrancas
não é cara feia
Localizada
a 280 quilômetros ao sul de Belo Horizonte, no
vale do Rio Grande, entre Lavras e São João
Del Rey, Carrancas e sua exuberante beleza natural não
combinam, definitivamente, com aquelas aberrantes figuras
mitológicas esculpidas em madeira, que, segundo
a crença ribeirinha, colocadas nas proas dos
barcos e canoas, protegem contra os maus agouros e espíritos.
Cidade
de quatro mil habitantes e forte tradição
religiosa, a pacata Carrancas sabe muito bem conjugar
tal fé cristã com a natureza que a abraça.
A igreja matriz local, cujos sinos tocam a cada 15 minutos,
durante todo o dia, foi construída em 1721 em
pedra de quartzito e seu altar-mor possui uma bela pintura
de Joaquim José da Natividade, artista do século
XIX. Como uma típica cidadezinha mineira, Carrancas
comemora as suas datas religiosas com procissões
e festas - as principais são as dos dias de Reis,
da Boa Morte e de Nossa Senhora da Conceição
- que
mobilizam a população local em apresentações
de Congado, de Folia de Reis e em desfile de cavaleiros.
Com
uma rica vegetação de cerrado e floresta
tropical, Carrancas é cortada por diversas nascentes
que brotam de sete montanhas e da serra homônima
ao município. Aliás, moradores contam
que a cidade ganhou este nome devido à grande
quantidade de pedras sobrepostas que fazem lembrar feições
humanas.
São
ao todo mais de cinqüenta cachoeiras e dezenas
de grutas. As cachoeiras encantam pela beleza. A da
Fumaça, por exemplo, considerada o cartão
postal da cidade, fica a seis quilômetros de distância
do centro e possui pelo menos 10 quedas, muitas piscinas
naturais e poções. Recebeu este nome porque
suas
águas caem de altura de cerca de 15 metros, produzindo
a chamada "fumaça" de vapor.
No
local conhecido como Serra dos Moleques, a 12 quilômetros
da cidade, está a Cachoeira da Zilda. Além
da queda de 10 metros de altura, a cascata proporciona
ao visitante a exploração de um estreito
cânion que se forma na correnteza da água
forte e gelada - a chamada Racha da Zilda, segundo a
lenda, uma bonita mulher que nos finais da tarde costumava
banhar-se nua na cachoeira.
Entre
as piscinas naturais que se formam junto às quedas
d'águas da região,uma das mais espetaculares,
sem dúvida, é o Poço da Esmeralda,
formado pela Cachoeira da Vargem Grande, a oito quilômetros
do centro. Mais próximo, a apenas um quilômetro
da cidade, está a cachoeira do Tira-Prosa, que
possui um escorregador natural e também vários
poços para banhos. Formadas por quartzito, as
grutas da Cortina e da Toca são as mais visitadas.
Esta última fica a cerca de três quilômetros
da cidade e possui 300 metros de comprimento. Em determinados
trechos, é preciso rastejar por estreitas passagens.
Um prato cheio para que gosta de aventuras. Próximo
à gruta da Toca está o Poço do
Coração, que recebeu este nome devido
ao seu formato.
Os
rios Capivari, Pitangueiras e Grande são os maiores
da região e alimentam a rica e diversa vegetação
local. Situada na área do Campo das Vertentes,
Carrancas possui campos naturais onde predominam espécies
gramíneas e arbustos esparsos. Nestes campos
de cerrado são comuns o ipê-amarelo e o
barbatimão. Já nas serras, predomina a
vegetação rupestre, onde podem ser encontradas
orquídeas, bromélias, arnicas, sempre-vivas,
ervas e diversos outros arbustos e pequenas árvores.
Somente
agora, pouco mais de cinqüenta anos depois de se
emancipar de Lavras, a antiga vila de Nossa Senhora
de Conceição das Carrancas, que no século
XVIII servia de passagem dos bandeirantes paulistas
em busca do ouro, tem se despertado para o turismo ecológico.
A nova atividade econômica visa suplantar as dificuldades
que os criadores locais de gado leiteiro vêm encontrando
para manter o sustento de suas famílias.
Algumas
fazendas antigas se tornaram pontos turísticos
e podem ser visitadas, além de funcionarem também
como hotéis. Entre elas estão a do Engenho
e Traituba, esta, de acordo com os proprietários,
construída em 1827 com a finalidade de hospedar
o imperador Dom Pedro I, que costumava freqüentar
a região para caçar, visitar amigos e
fugir do tumulto da corte.
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