Diamantina
Cidade da humanidade
É
bastante difícil resumir os atrativos principais
de Diamantina numa breve introdução. Pelo
simples fato de são eles muitos e diversos. Localizada
a 292 quilômetros de Belo Horizonte, no Norte
de Minas, a cidade histórica, envolta por serras,
córregos e cachoeiras, é uma espécie
de encontro com o passado e a formação
do estado brasileiro. Dona de uma riquíssima
cultura popular, a cidade confunde-se entre o profano
e o sagrado. A população de pouco mais
de 43 mil habitantes convive com diversas manifestações
artísticas, especialmente a música, e
um dos carnavais mais animados do Estado, sem perder
a velha religiosidade mineira.
Diamantina é também conhecida como a cidade
de Juscelino Kubitschek - seu filho mais ilustre - e
Chica da Silva, a singular escrava que no século
XVIII viveu com o contratador e autoridade portuguesa
João Fernandes de Oliveira, e se tornou uma lenda
da época.
Para consagrar sua importância histórica,
em 1999, Diamantina foi incluída no seleto grupo
de cidades Patrimônio Mundial pela Unesco, resultado
de uma campanha iniciada dois anos antes e que mobilizou
a população local. O justo título
conferido aproximou em equivalência o município
à Ouro Preto, a mais famosa cidade histórica
de Minas e também considerada um patrimônio
da humanidade.
Diamante
A
descoberta de diamante nas lavras de ouro, em 1729,
levou ao antigo Arraial do Tejuco, aventureiros, portugueses
e escravos, que formaram uma colonização
rica em diversidades culturais. Estima-se que na região
foram extraídos mais da metade dos metais preciosos
das colônias portuguesas e espanholas que se destinaram
à Europa. Em seu livro "O Povo Brasileiro",
Darcy Ribeiro afirma que três milhões de
quilates em diamantes foram arrancados das pedras e
águas da região, que abrigava então
a maior lavra existente no ocidente. No mundo mercantilista
do século XVIII, boa parte de tal fortuna foi
parar na Coroa Inglesa e serviu para financiar a Revolução
Industrial. Além de servir como moeda nos acordos
comerciais, segundo historiadores, o reino de Portugal
usou tal riqueza na reconstrução de Lisboa,
que havia sido atingida pelo terremoto de 1755.
O garimpo, conforme ocorreu no processo de interiorização
do Brasil, mais particularmente em Minas, arregimentou
uma grande quantidade de negros escravos para a região.
Uma população que influiu consideravelmente
na formação cultural da cidade, principalmente
no que se refere à música. A influência
negra está presente nas mais importantes festas
populares de Diamantina. A música, aliás,
é uma das características mais marcantes
do município, também conhecido como cidade
das serestas.
Arquitetura
Diamantina
guarda ainda um extraordinário acervo arquitetônico
resultante da atividade mineral. Se não possui
um conjunto tão extenso como o de Ouro Preto,
tem o mais abrangente, de acordo com especialistas.
Nos casarões portugueses, estão reunidos
detalhes da arquitetura árabe e adornos franceses.
Segundo historiadores, os arcos de características
mouras do Mercado Municipal, construído em 1835,
teriam servido de inspiração para que
Oscar Niemeyer traçasse a fachada modernista
do Palácio do Planalto, mais de um século
depois.
No conjunto arquitetônico da cidade destacam-se
também outras construções como
o Passadiço da Glória - ligação
de dois sobrados datados dos séculos XVIII e
XIX, que se tornou símbolo da campanha por Diamantina
como Patrimônio da Humanidade e que hoje abriga
uma exposição de pedras -, as igrejas
de Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora do Rosário,
a Basílica do Sagrado Coração de
Jesus e as casas de Juscelino Kubitschek e Chica da
Silva. Vale a pena também visitar o Museu do
Diamante, instalado num casarão construído
em 1789 e que serviu de residência do padre Rolim.
O museu abriga peças e documentos que retratam
a história da mineração na região.
No centro, um dos locais mais animados é o chamado
"Beco do Mota", um casario colonial que abrigava
prostitutas e boêmios até os anos 60 e
que hoje é um dos principais "points"
noturnos da cidade.
Festas
Aliás,
apesar de seu aspecto barroco, Diamantina é,
por excelência, uma cidade festeira. O carnaval
costuma reunir cerca de 35 mil pessoas, que se aglomeram
nos becos estreitos da cidade histórica, ao som
das famosas batucadas, que animam os foliões
dia e noite. A forte presença do batuque na cidade,
segundo contam seus moradores, é uma herança
dos antigos garimpos. A descoberta de novas áreas
de exploração costumava ser comemorada
ao som de tambores. Alguns blocos que desfilam no carnaval,
como o "Bartucada" e os "Becudos do Mota"
se tornaram famosos em Minas.
Outra festa famosa e bastante original é a "Vesperata",
que acontece em ocasiões especiais, na rua da
Quitanda. O espetáculo, cuja origem surgiu no
século XIX, costuma encantar os turistas. Como
uma espécie de seresta coletiva, um maestro nas
ruas de pedras rege vários músicos que
se colocam dispostos nas sacadas das casas coloniais.
No mês de julho, Diamantina relembra o passado
com a festa do Divino Espírito Santo e, em outubro,
a população se veste de branco e fitas
coloridas para comemorar a festa de Nossa Senhora do
Rosário.
Roteiros
ecológicos
Mas
as atrações da cidade se estendem também
ao seu entorno. Os roteiros ecológicos proporcionam
aos visitantes surpreendentes paisagens. A sete quilômetros
do centro de Diamantina está a gruta do Salitre,
uma formação de rochas quartzíticas
que serviu de cenário para a gravação
da novela global "Irmãos Coragem".
Como uma catedral gótica, a gruta, em seu centro,
possui uma espécie de anfiteatro natural, onde
são realizados concertos musicais.
Tendência recente e crescente na região,
o turismo ecológico vem contrabalançar
o impacto das atividades mineradoras no município
e localidades próximas. As cachoeiras da Toca
e Sentinela - distantes cinco quilômetros da cidade
- são também ótimas opções
para quem quer conhecer a rica vegetação
local. Porém, a mais exuberante é a cachoeira
dos Cristais, formada por várias cascatas e distante
16 quilômetros do centro de Diamantina.
Outro ponto de destaque é Biribi, uma antiga
vila operária, que abrigou uma fábrica
de tecidos inaugurada em 1876, hoje desativada. O conjunto
histórico do século XIX fica a 15 quilômetros
da cidade e oferece aos turistas o aluguel de casas
durante o final de semana.
Por fim, a três quilômetros de Diamantina
está o Caminho dos Escravos, uma mescla perfeita
entre história e ecologia. O trajeto, feito totalmente
em pedra, foi construído pelos negros para dar
acesso ao município de Mendanha. Belas paisagens
naturais acompanham o percurso.
Artesanato
Embora
ainda aquém de seu verdadeiro potencial, o turismo
é hoje uma das principais atividades econômicas
do município, que não se sustenta mais
através da mineração. Outro ponto
forte é o artesanato, de grande influência
do Vale do Jequitinhonha, como as peças de cerâmicas
e barro e a arte feita em casca de coco da Bahia. Destaque
também para a fabricação de tapetes
arraiolos, de tradição árabe e
portuguesa. Como não podia deixar de ser, os
artesãos diamantinenses são considerados
mestres nos trabalhos de ourivesaria e lapidação
de pedras preciosas, jóias que possuem reconhecimento
internacional.
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